Era a ultima quinta-feira de setembro daquele ano, Guilherme não queria perder nada daquele dia, levantou-se as 05:45 am e após um bom banho com água quente preparou o café da manhã se preocupando em deixar tudo perfeito, com todas as guloseimas que sua mãe adorava, pão de queijo, presunto, queijo, frutas, bolo de chocolate, bolo de milho e três tipos diferenciados de suco, além de leite, café e biscoitos. Decorou a mesa de uma maneira encantadora, qualquer um que visse a mesa decorada com tantas guloseimas, sentira seu apetite ser aberto instantaneamente e Guilherme ciente dessa verdade, cuidou de se arrumar e vestir sua melhor roupa para ir ao trabalho, enquanto se arrumava, ele pôde perceber que sua mãe havia acordado e estava no banheiro, tomando banho, Guilherme apressou-se e voltou para a mesa, ficou em pé atrás de uma cadeira esperando sua mãe sentar-se para que ambos pudessem tomar o café da manhã. Para surpresa do jovem ator, sua mãe chegou à cozinha, observou a mesa por um instante, como quem diz: “Linda”, e em seguida se dirigiu até Guilherme, tocou em seus ombros e lhe disse: “-Parabéns, faça bom proveito”, após ter disto estas palavras e velha torrona saiu pela porta e falou em tom alto, antes de fechar a porta: “-Irei tomar meu café na panificadora, não deixe nada sujo seu incompetente”, Guilherme sentou-se por um tempo a mesa, pensou sobre os motivos de sua mãe ser assim, deixou uma lagrima cair, mas logo se lembrou: “Hoje é o dia da premiação na mostra de teatro, não posso me abater”, ergueu a cabeça, desfez a mesa e levou as comidas para Sebastião, um morador de rua que sempre era ajudado por Guilherme.
No trabalho, com exceção das broncas que os estagiários levaram por terem perdido alguns documentos da mesa de Guilherme, tudo correu dentro da normalidade. Guilherme não queria que nada o tirasse do serio, a maior prova de que ele era capaz, foi o que fez por sua mãe e a forma que ele agüentou a provocação dela, afinal de contas, a velha era insuportável.
O expediente chega ao fim e é nessa hora que cai a ficha de Guilherme, ele foi indicado para ser premiado em três categorias diferentes, o problema é que ele deveria chamar algum familiar para lhe entregar o premio caso fosse escolhido para receber algum dos prêmios. Apesar do constrangimento certo, ele foi para o teatro, para a festa de premiação, esperando à hora em que passaria vergonha, pois não tinha parentes que pudessem compartilhar de sua felicidade naquele momento. O jeito foi ir para o teatro e não se intimidar com a situação ou com as pessoas e foi o que Guilherme fez. Na chegada ao teatro, podia se notar o clima festivo pelas luzes, pelas pessoas bem vestidas, pelos muitos carros na rua, pela impressa e fotógrafos por todos os lugares, um telão estava instalado ao lado de fora do teatro e muitas cadeiras ocupavam as ruas da frente e do lado do teatro, a prefeitura decidiu fechar as ruas para comportar o maior numero de pessoas. Mais gente, mais vergonha, era esse o pensamento de Guilherme que chegando ao teatro, não quis parar em local nenhum, foi adentrando ao local, sentou-se na primeira fileira e procurou acalmar-se, ele só queria que tudo aquilo acabasse logo.
Enquanto esperava pelo inicio da festa, pôde perceber que vários artistas estavam acompanhados de seus familiares, nesse momento Guilherme deixa cair uma lágrima de tristeza, misturada com angustia, medo e alegria, afinal de contas era um dia especial para qualquer artista. A festa inicia com uma homenagem a artistas falecidos que revolucionaram suas épocas e o país através da arte.
Enfim inicia-se a premiação dos artistas, os instrumentistas foram os primeiros a serem premiados em suas categorias e logo após os instrumentistas, foi à vez das bailarinas serem premiadas e homenageadas em suas categorias. Na hora de abrir o ultimo envelope para conhecerem o nome da ultima bailarina premiada, veio uma das maiores surpresas da noite, Sophia era a campeã, recebeu o premio de melhor bailarina solo. Quando Guilherme a viu, seu coração disparou e ele soltou um grito de felicidade que o fez esquecer-se de seu medo da vergonha iminente.
-Guilherme: Ela mereceeeeeeeeeee, uhuuuuuu.
Sophia recebeu o premio das mãos de sua mãe que mesmo não apoiando a vocação da filha, se sentiu muito feliz e orgulhosa pela filha estar em um caminho de paz. Após os agradecimentos, a despedida do palco e a pose para fotos, Sophia correu para a sala da coordenação e pediu para que o coordenador do evento lhe desse uma lista com os nomes de dos atores da Cia Art & Fato, foi nessa lista que ela descobriu que o seu “HAMLET” se chamava Gustavo Benayon. Sophia sendo sabedora dessas informações procurou um dos fiscais do evento e conversaram por uns 15 minutos, ela seria a salvadora da noite.
As premiações foram acontecendo, uma a uma e para surpresa de todos, Guilherme não foi premiado nas categorias em que estava concorrendo, a tristeza abateu a alma do jovem ator e conseqüentemente dos amigos e artistas que tinham presenciado a belíssima apresentação do jovem “Hamlet”. Quando todos já estavam preparados para saírem do teatro, o apresentador da festa sobe ao palco e avisa sobre a criação de uma premiação especial e nesse momento ele convida Sophia para subir ao palco. A bela jovem sobe ao palco, segura o microfone e começa seu discurso:
-Sophia: Esse prêmio foi criado pela organização do evento para homenagear o melhor artista da mostra de artes e de hoje em diante fará parte das premiações do festival. O primeiro artista a receber este premio é uma pessoa incrível que eu tive a oportunidade de conhecer e poder estar perto, é uma pessoa que alegra minha alma, me encanta e me fascina, me deixa sem palavras com suas ações, olhares e declarações, este artista, este homem tem sido meu maior presente, minha jóia rara, meu príncipe encantado. O escolhido para receber o premio de “Artista do Festival” foi – Sophia faz uma breve pausa antes do anuncio e continua - meu NAMORADO, Guilherme Benayon. Meu amor, o premio é seu. Parabéns!!!
Nesse momento Guilherme sentiu seu coração pular pela boca e não esperou outra chamada, subiu ao palco como quem fosse cúmplice da historia, afinal de contas, Sophia inventou toda essa historia louca, para poder ter a alegria de presentear o homem da sua vida e para ser seu anjo da guarda, visto que ele não teria ninguém para lhe entregar o premio. Guilherme já tinha perdido a esperança de ser premiado, até porque todos os prêmios haviam sido entregues e nada lhe tinha restado, até que veio a surpresa final, ninguém, nem mesmo Sophia sabia desse premio, foi uma felicidade imensa para Guilherme e todos seus amigos.
Após receber os premio das mãos de sua “salvadora”, Guilherme olhou bem nos olhos de Sophia e com lagrimas escorrendo pelo rosto lhe disse: “-Obrigado”. Essa simples palavra, fez Sophia refletir na evolução que teve, o primeiro obrigado que ganhara de Guilherme foi no dia da mostra de artes, um obrigado frio que ela não faz questão de lembrar, mas, o segundo, o de hoje, foi um obrigado com emoção, com amor em cada letra, com sentimento e com verdade, Guilherme estava realmente agradecido. A emoção tomou conta do casal e ela pelo impulso da juventude, se atirou nos braços de seu “Hamlet” e o beijou como nunca havia beijado outro homem, esse foi o maior espetáculo da noite, a platéia de dentro e a de fora do teatro ficou em êxtase, as pessoas gritavam, aplaudiam e assobiavam para o casal em cena, para o espetáculo de encerramento da noite, o flash das maquinas não paravam e nesse momento o técnico de som do teatro, rodou uma musica que iria virar o tema desse lindo casal.
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